¿Quien soy?

Mudança para o Brasil

Kazurayama contou que ouvia muito sobre o Brasil durante a adolescência. Japoneses se referiam ao país como acolhedor, pacífico e com terras para plantação a perder de vista. “Em 1959 vi um anúncio sobre uma cooperativa de São Paulo que estava recrutando jovens para trabalhar com agricultura e decidi me candidatar”.

A viagem de navio até o Santos (SP) durou 41 dias. De lá, o imigrante seguiu para Castro (PR), onde trabalhou por três anos em uma plantação de batata. Em 1964, Kazurayama decide se mudar para Mato Grosso. “Uma imigrante japonesa contou sobre terras que havia ganhado do presidente Getúlio Vargas na cabeceira do rio Xingu. Não tinha nada lá, nem estrada”, lembra o artista plástico.

Segundo ele, as terram haviam sido doadas para estimular a formação de uma colônia japonesa. Kazurayama morou por 18 anos na gleba Rio Ferro, onde trabalhou na plantação de seringueira e pimenta do reino, além de trabalhar como serralheiro. Lá, ele a mulher foram infectados por 3 tipos diferentes de malária.

“Muitos camaradas trabalhavam nas plantações de seringueira e quase todos já tinham o vírus da malária no corpo. Como lá tinha muito mosquito, logo eu e minha esposa pegamos a doença também”, lembrou Kazurayama. O japonês ainda se recorda dos 30 dias que precisaram ficar internados na Santa Casa de Cuiabá.

Mas mesmo após receberem alta, o mal estar persistiu e ele já não conseguia mais fazer atividades rotineiras. “Minha cabeça doía muito e eu não tinha coordenação motora para andar”, contou. Então, o casal precisou se mudar para São Paulo para tratar a doença.

Assim que recebeu alta, Kazurayama voltou para a plantação de seringueira. “A gente trabalhou igual ‘louco’ para sobreviver”, diz. Em 1982, ele decidiu vender tudo e se mudar para Cuiabá para descansar. As “férias” do trabalho foram breves, já que em 1988, Kazurayama decidiu voltar para o Japão para trabalhar em uma montadora de carros, e só retornou ao Brasil em 2015.

Obra de artista japonês em exposição em museu de Cuiabá — Foto: Bruna Barbosa/G1

Obra de artista japonês em exposição em museu de Cuiabá — Foto: Bruna Barbosa/G1

Arte como refúgio

Até o ano de 1960, Kazurayama estudava pintura em Kyoto, no Japão. Mas no período que veio trabalhar com plantações no Brasil, o artista plástico precisou deixar a arte de lado. Desde pequeno sempre gostou de tudo que fosse relacionado a arte, mas conta que como não tinha condições financeiras de comprar tintas e pincéis, se inscrevia em competições para ganhar o material.

“Eu nunca comprei nada, sempre ganhava o primeiro lugar nas competições, todos os meus materiais, na época, eram prêmios desses concursos”.

Durante a carreira como artista plástico, Kazurayama participou de exposições na UFMT, em Cuiabá e no Japão, onde teve uma de suas obras selecionadas pela organização. “Foram mais de 300 telas de pintores de todo o Japão e a minha foi uma das 20 escolhidas para o prêmio”, conta.

Quinze telas de autoria dele ficarão expostas até dia 31 de agosto no Museu do Morro da Caixa D’Água Velha. As obras reproduzem paisagens do Japão e de Mato Grosso. A entrada é gratuita.